quinta-feira, agosto 25, 2005

ALDEIA DA ROUPA BRANCA

Todos os dias ao princípio da tarde compro a versão impressa do canais memória que a SIC e a RTP impingem. Mais ligada para a lusitanidade, o canal do estado muito raramente tem graça, ao invés, a SIC passa uma porção de preciosidades, mesmo dando de barato que «o sexo e a cidade» não é um evento do antigamente, e só não foi exibido como devia (passou algum tempo na 2, a horas mortas) por excesso de pudor ou, melhor dito: por falta de tomates.
São duas páginas de actualidade antiga e eles dão-me a edição do dia, de mata-bicho. Hoje era Agosto de 47 e não estavam lá Sócrates nem o sub-Costa mas foi como se estivessem. Um subsecretário (era assim que se dizia) do Comério comentava a política de baixa de preços impreendida pelo governo da Nação:«não visa arruinar a produção». Não visava, não senhor, mas era uma mentira tão mentirosa como as que eles usam agora. Podiam mentir sem pudor porque a censura servia para alguma coisa e comentadores isentos e pluralistas não os havia e nem mesmo o pai do nosso desempoeirado Marcelo se atrevia a tal.
O subsecretário tinha ido a Peniche inaugurar um mercado, coisa que hoje só o sr. Alberto da Madeira costuma fazer.
Se bem me lembro o ministro do subsecretário ficou conhecido por «barbosa das farturas». Em todo o caso era mentira, A «baixa» era uma fraude. Sei isso porque era miudo e era a mim que me mandavam ir comprar pão. O pão que existia à época, todo ele, aumentou de preço. A parte que me interessava, o paposseco, aumentou meio tostão por unidade, e o resto foi a condizer. O que os ricos fizeram foi criar tipos de pão, mais leves e de pior qualidade, que vendiam por preço inferior ao antigo. Foi assim também com os sapatos e quem sabia de sapatos era o meu pai. O sapato que se vendia, nesse tempo a 180 paus, passou para 193$50. Criou-se outro tipo de sapato, claramente inferior, cujo preço foi fixado em 155 mil reis. Era batota ou não era?
No fundo é como a OTA tem ou não tem espaço para outra pista? Daqui a 40 anos comprem o DN e vão, por certo, ficar a saber. No tempo dos sapatos mais baratos o governo determinou que durante trinta dias só pudessem expôr-se nas montras os novos produtos a «baixo» custo!
Hoje, no DN de 47 vai começar a Volta a Portugal. Fartei-me de rir: sei quem vai ganhar. Querem apostar? É o Zé Martins. É o maior, ganhou a Volta o ano passado. E o João Rebelo vai ser segundo. E o Império dos Santos é homem para acabar em 3º, assim Deus o ajude. Desculpem lá, mas não têm sorte nenhuma: amahã já é 48 e o jornal não vai dizer nada...
E ontem a filha telefonou-me aflita de Paris. Tinha visto os fogos daqui na televisão de lá.
«Ainda bem que não morreste afogada» resmunguei-lhe eu, que estava a ver a bola...

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei deste post "Kota" Soares