domingo, agosto 14, 2005

O Pó fascista que desaparece

Para trás ficou Milowka, o hotel simpático e a família de Wincenty, Danuta, a esposa e Kuba, o filho. Foi uma despedida de verdadeiros amigos, com a promessa de regresso. No Inverno, para aprender a esquiar - ou a partir as pernas - vão acrescentando os companheiros de viagem.A passagem pela Eslováquia dá para entender que a Europa só pode mesmo ter futuro. Assim apareçam lideranças honestas e competentes. Há obras por todo o lado e os campos não estão parados: milho, girassol, trigo,uma azáfama real, mesmo que, de vez em quando se tenha uma enorme fila na estrada porque um tractor, velho, mesmo a cair, resolveu descansar um pouco antes de fazer mais um esforço.Os eslovacos e os polacos da polícia de fronteira têm alguma saudade dos outros tempos - nota-se. Estão sempre a ver se descobrem qualquer coisa estranha nos documentos, olham para os automóveis como se escondessem um exército de terroristas. Estão a conviver menos bem com a abertura de fronteiras e não dispensam o exercício da autoridade em cenas verdadeiramente risíveis.Agora que as fronteiras têm pouco significado, os polacos estão a construir um enorme complexo arquitectónico para a sua fronteira com a Eslováquia. Vá-se lá perceber porquê.Em Povazska Bystrica, à beira da estrada, um restaurante bem simpático, de bom gosto, com boa cozinha e um serviço perfeito. Foi a última etapa naquele país. A próxima paragem seria já na Austria.Vindo da Eslováquia, entra um homem na fronteira austríaca e é como se tivesse snifado pó fascista.Na primeira estação de serviço, o guarda da "mija" da viagem, um gorila de cabeça rapada e olhar feroz cobra 30 cêntimos por cada alívio. Sessenta paus, a multiplicar por quatro são... Temos que inventar um sistema de ser possível dois em um. É que assim já nem o Pitigrilli tem razão. A este preço é uma dor de alma.A mulher dos telefones, parecida com aquelas senhoras que nos filmes americanos fazem o papel das megeras comunistas, encolhe os ombros, quando se protesta porque a porcaria da máquina de telefonar engole euros a uma velocidade espantosa. Resultado: oito euros engolidos e o telefonema por fazer. A fascista ainda cerrou os punhos com a nossa conversa.A certa altura fica-se com o receio de ser assaltado. Os preços são um pavor e as caras daquela gente fazem lembrar um file de terror. Emobra que se faz tarde.O objectivo é passar Viena a caminho de Salzburgo. O costume: circulares mal sinalizadas, obras por toda a parte, mas depois de alguns enganos e algumas voltas atrás lá conseguimos sair da grande cidade.Para mim, as grandes cidades são um inferno, antes de chegar ao centro. Ultrapassar as sucessivas barreiras de betão, asfalto, automóveis, cidadãos mal dispostos é um verdadeiro martírio - acho, aliás ter já ganho o direito ao céu (não direi a 70 virgens, mas...).Ultrapassada que foi Viena, descobrimos a outra Austria, das pequenas vilas, da gente afável, prestável, esforçada. Graças a eles encontrámos uma pequena relíquia, uma casa de turismo rural, conseguida da recuperação de uma parte (dos estábulos) de uma grande quinta da família A. Riedl.Um senhor de ar cavalheiresco, uma senhora campesina, entusiasta, afável, preocupada e afectiva e sua filha, a gerente do empreendimento,igualmente simpática, eficiente e com um inglês aceitável.Nada como o turismo rural português, que muitas vezes não passa de um artifício para ter obtido fundos para a recuperação das casas de família e as instalações que disponibilizam para os hóspedes são de um mau gosto aflitivo, com as relíquias familiares.
Não, aqui, em Grafenworth é tudo impecável. Apenas um senão: não têm Net. Mas os quartos são de um bom gosto a toda a prova, o pequeno almoço, de primeiríssima, servido em louça Villeroy e Boch. Como bónus, a companhia de um cão enorme, simpático e gordo, o max.

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