sexta-feira, abril 22, 2005

COMO SAIR DE UM BURACO?

A maneira mais prática de evitar um dilema destes é não entrar no buraco. Mas sem problemas não há soluções. Pronto! Lá estou eu a atirar-me às cegas pelo beco fora e, depois, esbracejar como um doido. E tudo porque li o matutino, que fazia queixa do matutino do lado. Não era a rufiada de um contra o outro que me pôs mal disposto, já lá vai o tempo em que os jornais me mereciam respeito. Hoje folheia-se um jornal com a mesma placidez com que se busca na lista telefónica o número da salsicharia.
O caso dos profs e dos seus deles atestados médicos deixou-me mal disposto. Principalmente por, a meu ver, ter sido mal abordado. O desenrascanso lusitano tem tradição. Nasce da necessidade e, como é sabido, esta aguça o engenho. No caso vertente, um caos administrativo, politicamente vergonhoso, pôs em risco o ano escolar. Misturou-se escassês de massa, (taco, pilim, cacau, ah! euros!) com falta de programas, falta de organigramas, falta colocações e excesso de vontade de diminuir encargos e pessoal docente. Muita falta e pouca uva.
O resto já se sabe e deu na palhaçada que deu.
E, agora, com o ano já na fase derradeira, ergue-se a questão moral, levantam-se vozes escandalizadas e preparam-se inquéritos impiedosos. Atenção:não vai haver inquéritos aos efeitos da balbúrdia que foi a montagem do ano. O que se põe em causa é a legitimidade dos profs serem aldrabões, como se a aldrabice fosse privilégio exclusivo de outros escalões da função pública.
Muito provavelmente noventa por cento dos atestados médicos em moeda falsa. O que é que se podia esperar?
Não se praticou nenhuma falsificação incomum. Os tribunais recebem imensa papelada dessa para adiar julgamentos. Réus e testemunhas fartam-se de se baldar com recurso desse tipo. Os funcionários que gostam de fazer crecer o fim-de-semana também utilizam esse documento trivial.E toda a gente sabe. É daquelas coisas...
Vamos dar de barato que sim, que no caso da colocação dos profs se exorbitou e que, bom!,pois!, enfim, nasce uma oportunidade para finalmente se sair do buraco. Pode concordar-se com esta tese, mas, senhores, antes de tudo convirá enquadrar bem o buraco. Não será altura para pedir explicações à Ordem dos Médicos?
De facto, não é um sapateiro qualquer que assina o atestado que paraliza o juiz, desautoriza o director-geral ou o director debaixo-do-geral. Nunca se achou por bem pôr em causa a idoneidade do documento assinado à toa pelo clínico mais à mão, o qual as mais das vezes assina por amabilidade ou por ser simpático, sem disso tirar grande proveito. É muitas vezes certo. Será. Mas ao ser simpático, o médico acaba por prejudicar alguém no processo ou, no caso vertente, prejudicou outros docentes igualmente carecidos de colocação e sempre se soube que essa era uma prática corrente, apesar dos prejuizos que causava ( e causa) ao Estado.
E, pela mesma razão, devemos acusar de irresponsabilidade na matérias os sucessivos governos, progressistas ou não, os supremos tribunais com todo o cortejo de ilustres mestres, os quais, de facto, nunca mostraram grande aptidão para prevenir, que é, sem dúvida preferível a julgar?
É manifesto que a legislação nesta matéria terá de ser revista e actualizada com rigor, mas a Ordem terá de intervir também no sentido de impôr respeito pelos valores éticos da classe. Punir só os profs será manifestamente injusto. Como se diz na terra da minha prima: tão ladrão
é o que vai à horta, como o que fica à porta...

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