quarta-feira, fevereiro 01, 2006

ESCUTA

De manhã, com Sol e sem vento é uma festa. Sento-me tranquilamente no quintal e leio qualquer coisa que tenha à mão. Entrevi por entre folhagem uma vizinha que foi depositar sacos de plástico no tambor do lixo. No retorno cruzou com um vizinho, adivinhei um enorme sorriso e ouvi um estridente «bom dia, vizinho!», que ripostou qualquer coisa sobre o dia bonito. Palpitou-me um blá-blá comprido, enquanto eu ia lendo qualquer coisa sobre abusos com as escutas telefónicas e ouvi a vizinha: «Oh! sabe lá! Isto está cada vez pior. Estes gordos até o lixo espalham! É lixo por todo o lado e o contentor está um nojo! E não há ninguém que lhes diga nada.... É uma nojeira é o que é!... E a sua senhora como é que vai?» Nem percebi a resposta mas voltei a ouvir a vizinha: »O vizinho está enganado... aquela dali é uma sonsa... é que ela é... Não se deixe ir nissso»...
Voltei ao pasquim e à zanga de Pinto da Costa com os adeptos violentos e de repente escutei: «Este, aqui, é um chato, um mal encarado, mal diz bom dia. Só pensa nos cães. Parece que todos lhe devem e ninguém lhe paga!»...
O «este,aqui», o «mal encarado» sou eu, mesmo dando de barato que eu não sujo o contentor e que os meus «bons dias» para a «sonsa» do outro lado da rua costumam ser bem cordiais, que evito os «gordos» e não deixo que os cães mijem nas plantas dela. Mas lembrei-me da minha avó:«não sejas malcriado, não se ouve a conversa dos outros... Não te esqueças que quem escuta de si ouve»...
Fiz barulho com as páginas do jornal e sorri ante o súbito silêncio e o fim da conversa «Adeus, vizinho»...
Conversas de campo são como as notícias nos jornais: acabam sempre no mesmo! Porque a zanga sobre as escutas telefónicas perderem o senso. O que se sabe dessas «conversas» são em geral fugas de informação. Não é assunto para badalar na praça pública. Farto-me de ouvir telefonemas, quando vou de comboio para Lisboa. A última que escutei, quase escandalizado,
foi a de uma jovem senhora, muito desenvolta. Quis lembrar-me, aqui, do que ouvi, mas a única coisa que me lembro é que a sujeita era bem interessante, «apelativa», como diria o meu avô se fosse vivo!Caramba, ricos!, com uma beldade daquelas para quê um telefone? Comunicação só por sistema braile...
Não há já nenhum personagem importante, mesmo que seja corrupto, que faça hoje em dia, ou receça, telefonemas comprometedores. «Engates» ainda vá que não vá, mas negociatas!? Tá quieto!
Pasma-se com a informação que se vincula através dos jornais, sobretudo a que previne a delinquência e os delinquentes dos propósitos das autoridades. E pasma-se mais justamente por
se poder desconfiar que parte dessa informação é «vendida» ou irresponsavelmente divulgada.
Já lá vai o tempo em que o segredo era a alma do negócio...

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