quinta-feira, maio 03, 2007

EUROSICES

A expressão «todos iguais/todos diferentes» já não é nova, mas enquadra-se divinamente no conceito da UE. Todos temos os mesmos direitos, mas os alemães, os nórdicos, os ingleses ou franceses, sem esquecer os espanhóis e outros europeus, ganham melhores salários, auferem melhores pensões de reforma, que os portugueses.
Mas as semelhanças existem. Ontem, por exemplo diverti-me, a assistir ao frente-a-frente Sarko-Sego. Politicamente incorrectos,os candidatos procuravam jogar a imagem, não tanto por uma questão de postura e de domínio dos dossiers, mas de condição. A guerra dos sexos estende-se cada vez mais, mas de cada vez que surge gera perplexidade.
Sarkosy contido; Segolene disposta a não se conter. Talvez tenha exagerado. Não por zurzir no oponente. Isso era o que se esperava dela, mas por prometer demais. Ò, rica, de promessas está o mundo cheio e o povo já se habituou a desconfiar.
Claro que mulheres na política não é novidade.Golda Meir surgiu de rompante em Israel. Claro que impressionou pela sua firmeza. Mas que podia ela fazer se Israel estava rodeado de hostilidade? Claro que como mulher confundia o sistema. E como entender isto melhor se não lembrando a graçola: «Sabes porque é que Golda Meir usa saias compridas? Para não se lhe verem os colhões!»...
Mais do que ordinarice entendia-se como um lampejo de machismo resssentido!
E a «dama de ferro», na Inglaterra, alguém se esqueceu dela, ao cabo destes anos todos? Também ela teve de pegar em armas!
Foi acontecendo um pouco por todo o lado.Por cá, tivemos Lurdes Pintasilgo, que entrou pela mão de Eanes e que acabaria por salvar Mário Soares, ao dividir os votos da esquerda dura com Salgado Zenha, então apoiado pelo PC...
Em todo o caso foi melhor assistir a este frente-a-frente do que a alguns do passado.
Da última vez não houve, porque Chirac não aceitou sentar-se diante de Le Pen. Não era preciso para resolver nada e o Presidente livrava-se de ter que aturar diatribes sobre subsídios camarários «do antigamente», que sempre vinham à baila em períodos eleitorais. Houve alguns decisivos, entre os quais o de 74, que salvou Giscard, frente a Mitterrand!
Da vez seguinte o presidente ficou isolado, à direita, e para aceitar um «frente-a-frente» Mitterrand impôs uma porção de condições e de condicionalismos para o debate.
Com sucesso! Ganhou o debate e venceu as eleições.
Chirac haveria de pagar a maldade, quando chegou a sua vez de se enfrentar com Mitterrand.
Desta feita, temia-se a imagem de um casal desavindo ir gritar para a Televisão, E não foi assim.Ainda que tenha sobrado a ideia de que ambos, contidos, tenham optado por mandar recados aos jornalistas, mais do que tentado influenciar os que votam; como se deixassem à imprensa o encargo de fazer promoção política. As promessas, mesmo partindo de uma senhora bonita, quando excessivas dão que pensar. Algum matreirismo sarkosiano aligeirou o debate. A imagem de um polícia repressivo que Segolene quis sublinhar do seu adversário é uma arma de arremesso perigosa. Depende aonde vai acertar. Há muita gente que vive aterrorizada nos bairros periféricos de Paris e outras grandes cidades,para quem um polícia, preferencialmente duro, é uma necessidade primária...
A juventude pende mais para o romantismo, indiferente à causa, ainda que seja a sua.Porque,se algo de errado acontecer será sobre ela, a juventude, que tombará o pior das consequências. Seja como for, é para isso que se vota: para pagar a factura...

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