segunda-feira, maio 28, 2007

BATER NO MOLHADO

De vez em quando os ditos orgãos de comunicação social gostam de vir atrás rememorar.Como dispõem de limites apertados de tempo relembram pouco e por vezes mal.
Vi o Estádio Nacional, a propósito do final da taça e aproveitou-se para criticar um estádio que só serve para um jogo por época. E se tinham matéria para agitar as artes!
O Estádio da Cruz Quebrada data, creio eu, de l944, quando o Estado Novo dispunha
de um ministro das Obras Públicas levado da breca. O aeroporto da Portela era ainda novo, mas já existia. Tinham em comum a notável ausência de acessibilidades. Para se ir ao Estádio, aquando da inauguração, o comboio da linha do Estoril deixava-nos na estação da Cruz Quebrada, que também servia a praia, bastante frequentada. Dali ao Estádio ia-se a pé. Os eléctricos também se imobilizavam no termo da carreira, já fora dos limites da cidade, o que onerava o trajecto em dois tostões de vassalagem a outra câmara municipal. Ao desvio do comboio faltava acabar um pedaço de estação, tal como aos eléctricos, que iriam depois até ao largo fronteiro à estação, ainda distantes do Estádio. Autocarros não os havia e auto-estradas ainda menos. Se bem que para o Estádio estava a ser construida um desses luxos. Faltava era acabar o viaduto por cima de Alcântara...
Nesse 10 de Junho iniciava-se a Taça Império. Que devia opor o campeão nacional ao vencedor da taça de Portugal. Logo havia que arranjar coisa maior e, que Diabo!, um império tinha que servir para alguma coisa! Sporting-Benfica. Os lagartos haviam ganho o campeonato e o Benfica vencera o Estoril, ainda da segunda divisão, nas Salésias. Só lá para os anos setenta a Taça incluiria equipas africanas.
A inauguração propriamente dita teve o seu aparato aparatoso, com muitos meninos a fazer ginástica e fizeram tanta que o jogo começou já ao fim da tarde. Terminou empatado e fez-se a meia hora suplementar, praticamente às escuras. Estádios iluminados não se conhecia. O Sporting ganhou.
Com o aeroporto era quase o mesmo. Não se podia lá ir. O eléctrico mais próximo ficava no Areeiro; autocarros, já disse, não havia. Só chegaram uns dois ou três anos depois da guerra. Só de taxi é que lá se chegava. Gente com carro era pouca. Para se ir espreitar o aeroporto à Portela tinha que se marchar um bom pedaço. Só ao domingo ou nas férias! E ninguém perguntava pelas auto-estradas.
Em boa e honesta verdade o ministro não tem razão, no que toca à margem esquerda. Claro que tem auto-estrada. Experimente fazer um aeródromo junto de Setúbal. Tem tudo lá. Até tem casino e hoteis constelados à brava, em Troia, onde já têm um festival de cinema tão bom como o de Cannes. Cheio de vantagens. Se um tipo se descuida por ir muito depressa, não faz mal,logo que chegue a Faro tem outro aeroporto, rodeado de hoteis supra-sumo.
Na Ota não! É um deserto. Até ao Porto não há nada que se veja, a não ser saloios.Em Troia, pois! Imagine-se criar um centro cultural, onde se pudesse ler e escutar as anedotas do Bocage!
Em todo o caso, se querem vender, porque é a vender que se amealha, a Ota, eu ajudo. Sócrates só tem que fazer uma ameaça: Ou a Ota ou este ministro das O.P. nunca mais sai...

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