O que começou há dez dias em Paris não pode ser resolvido com declarações bombásticas de autoridade no parlamento por um primeiro-ministro que se limita a repetir a ideia de que " a República não vacilará..."
O fantasma da monarquia já lá vai há alguns séculos, senhor Villepin. A República é hoje um instrumento de exploração como o foram todas as monarquias. Os bairros que hoje estão a ferro e fogo são habitados pela mesma gente - porque com os mesmos problemas - que tomou a Bastilha, a cidade de Paris no sec. XVIII, que assistiu com entusisamo à decapitação de Luis XVI e de Maria Antonieta.
Senhor Villepin, primeiro-ministro de França, a sua República, em nome da qual garante que não vai vacilar, já não tem a força moral para usar o conceito de um governo do povo para o povo, em nome da "Liberdade, Igualdade, Fraternidade".
A sua República abastardou-se e só cuidou da liberdade de alguns, da igualdade dos mesmos e da fratrenidade de ambos.
O que começou há dez dias em França é o princípio do fim de alguma coisa. Por mim, espero que o senhor, senhor Villepin, consiga, com o mesmo entusiasmo com que fala de ordem no seu parlamento, convencer os seus pares europeus de que a burguesia está em maus lençóis. Já não por causa dos bolcheviques, dos soviéticos, dessa gente organizada em rebanhos coloridos, mas por causa - de novo - dos famintos, dos marginalizados, dos desprotegidos, dos injustiçados, dos explorados.
Sobre si, senhor Villepin, impende a enorme responsabilidade de evitar a demonstração de um teorema histórico: todos os grandes movimentos sociais de contestação violenta começam em Paris, estendem-se a toda a França e contagiam o resto da Europa.
Estou longe, não ouso sequer aproximar-me de si, cidadão Villepin, mas se pudesse, apostava consigo, dobrado contra singelo, que em Paris, neste ano da graça de 2005 , principiou algo importante. E não lhe chame terrorismo, por favor. Lembre-se antes da história de Spartacus, sei lá... de Cristo, mas não o misture com JP II ou com Bento não sei quantos
Olhe, eu, se fosse a si, reformava-me e ia para a Bretanha. As notícias chegam lá mais tarde e todas as Repúblicas de hoje cometeram os mesmos erros, diria até, os mesmos crimes da sua.
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