domingo, outubro 09, 2005

As Bandeiras

Hoje, numa mesa de voto, apareceu uma mulher - loira, de olhos verdes - com um boné a segurar-lhe parte dos cabelos e enrolada em várias bandeiras. Na fila ( ou bicha?) de voto, os outros, de gravata, de fato de treino lavado, de camisa desapertada, mas a notar-se o vinco de todos os dias, olhavam a senhora - desconfiados.
Ele eram as bandeiras do sporting e do benfica. Até do Olhanense, agora a singrar rumo à chamada (ou já não se chama ?) super-liga. Cachecóis do Braga, misturados com os do Vitória de Setúbal.
A Loira, de olhos verdes, permanecia calma, sem olhar para ninguém e sem permititr que alguém fixasse os olhos nela. Direita, quando olhava, olhava em frente. Até do Barcelona, ela tinha uma camisola. Sem publicidade, limpinha - só o emblema da Catalunha.
Tinha muita gente à frente e a bicha (como a da cave) arrastava-se lentamente. A senhora chegou à frente da mesa de voto. Os membros ficaram em sentido perante tanta bandeira e ela perguntou, com voz nasalada:
"por favor, os senhores podem indicar-me em que porra de bandeira destas eu posso botar a minha cruz, isto é, em qual emblema eu posso acreditar. Querem que eu seja mais explícita: há aqui alguém (um gajo ou uma gaja) que me possa dizer em que cor eu posso apostar tranquilamente?. Ou vou-me embora e volto a pendurar as bandeiras e os cachecóes na marquise até aparecer a Maria da Fonte?"
Fez-se um silêncio pesado, ninguém se atreveu a responder à mulher loira, de olhos verdes, enfeitada de bandeiras (mas com gosto). Ela, então, olhou para os membros da mesa, ainda em sentido (claro) e declarou: "não escolherei. Recuso-me a escolher bandeiras, sem conhecer as ideias, os projectos, as intenções, o carácter de quem se apresenta a eleições. Não escolho porque não há diferenças. Levo as minhas bandeiras, estas, as únicas que continuam a ser símbolos de batalhas abertas".
Saiu a mulher. A assistência ficou calada, estarrecida. Que fazer? os homens e as mulheres da mesa de voto olharam-se entre si e uma de entre eles, encheu-se de coragem e disse: " ao menos diga-se o seu nº de eleitora para colocarmos a cruz".
A senhora loira de olhos verdes olhou-os de cima e percebeu a preocupação: os números, as percentagens e debitou um número.
À saída uma televisão fazia sondagens à boca das urnas e interrogou-a: "para a Junta de Freguesia votei Estoril Praia (não é tão chieque?...), para a Câmara Municipal votei PCTP/MRPP. Agora é que isto vai..."

Todo o povo parou para ver aquele boné passar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eh, eh, eh ... inda dizem que as loiras são burras!! Talvez sejam é mais descontraídas e por tal facto se permitam a estas atitudes de coragem!!! E viva o Estoril Praia. Força PCTP / MRPP! E já agora essa loira tb podia ter levado a bandeira de Angola, afinal Angola está no Mundial ... tb é chique!