Até pode ser que o assunto seja sério, mas dei por ele com um sorriso, expontâneo: o custo zero dos «metro», distribuidos na rede de Metropolitano, está a ocasionar dissabores nos quiosques ou lojas afins. O matutino, que referia carinhosamente os ardinas (onde eles já vão!...), criticava abusos na distribuição dos «gratuitos», uma espécie subterrânea, como se sabe. O jornal não se assumia como parte interessada. Limitava-se à reportar os prejuizos nos postos de venda, onde a freguesia parece escassear.
Sou do tempo em que os jornais, matutinos e vespertinos, custavam uma «c'roa» ou cinco tostões, se preferirem. Não havia metro, debaixo dos pés, nem jornais gratuitos, e os ardinas esfalfavam-se, a correr pelas ruas, a trepar pelos eléctricos, Quando os autocarros fizeram a sua
(deles) aparição já os diários custavam oito tostões. Vendiam-se bem, os jornais, que criaram o hábito de ler quase tão natural como o de fumar.
Bom, vamos lá a ver, não havia, por esses tempos, um monte de coisas, que vai havendo agora e que ajudam as pessoas a prolongar-se no tempo. Morria-se por dá cá aquela palha. Os antibióticos ainda não tinham encetado carreira. Nem se cuidava saber dos malefícios do tabaco.
A necrologia era muita lida, apesar dos acidentes de viação serem escassos. A opinião de fundo era ligeira; as novas sobre as guerras eram confusas e a moral muito convencional. Já devem ter percebido que nem se imaginava por estes lado que houvesse, ou viesse a haver, televisão.
Pelo lado mais popular, havia o futebol, que levava as pessoas à bola e a ler jornais; e, o que não era pouco, o ciclismo, que tinha muitos adeptos e muita leitura nos jornais. Nem só pelo «volta a Portugal», as diversas corridas em pista tinham muitos entusiastas. Por um jogo de futebol ou por uma etapa da Volta consumiam-se edições e edição de vespertinos. Era frequente algumas das etapas mais alargadas justificarem três e por vezes quatros edições suplementares, até se saber quem ganhou a etapa. Nem a Rádio se metia nisso. No Rossio, ficava-se horas à espera
de ver no placar os resultados do futebol ou das etapas da Volta.
A Rádio transmitia, aos domingos, às sete e cinco da tarde/noite o resumo da primeira e o relato da segunda parte de um jogo de futebol do campeonato português e, em diferido, já se vê, que nesses idos, não havia nocturnos. A referência ao «sete e cinco» teve a intenção de sublinhar que às 19h05 já havia terminado o bloco de notícias.
Mas, meus senhores, entre as 17 horas, na rua, e as 19 na Rádio, muito jornal aparecia fresco a apregoar o «traz-a-bola».
Nesses tempos épicos um jornal era coisa séria. Uma empresa gráfica, que entre coisas várias, editava um jornal, possuia uma distribuidora própria para colocar no mercado o seu produto. A redacção de um matutino quase não parava. A redacção «fechava» entre as três e meia e as quatro de manhã. A Censura dava por encerrada às três da manhã. Depois disso só notícias sob responsabilidade do director. Mesmo assim, os acontecimentos chegavam frescos aos leitores, ávidos por novidades, pelas notícias.
O progresso foi madrasto para a imprensa escrita. Primeiro a Rádio, depois a Televisão, deram o salto. As notícias e os resultados do futebol chegavam primeiro pela Rádio e, mais recentemente,
pela Rádio e Televisão. Só depois surgem no papel. Ao princípio nem se registou quebra nos jornais. Quem ouvia o resultado na Rádio ou´na TV ficava impaciente para ler o que iriam explicar os jornais. Aliás era assim para quase todo o género de notícias. Não havia o hábito de digerir pelo som ou imagem. Era preciso ler no jornal. Eles lá explicavam de maneira que se entendesse!
Lembram-se quantos diários havia em Lisboa no Abril de 74? Quantos matutinos? Quantos vespertinos?
Em 76, Manuel Alegre jurava que o Século não podia fechar. Alguém se lembra do Jornal Novo?
E do Diário de Lisboa? Da República? Do Popular? E outros, sei lá quantos. Tentaram diminuir o peso. Perderam as oficinas; a distribuidora própria. Perderam sobretudo leitores. Aos poucos os jornais começaram a ser claramente o jornal de ontem. Os temas principais já são conhecidos de véspera. Qualquer notícia que irrompa depois das nove da noite e que movimenta todos os meios de Rádio e Televisão é muda na imprensa matutina.
O «metro» não é uma novidade lisboeta. Creio ter sido por iniciativa nórdica. O primeiro exemplar que li foi no Metro de Madrid. Anos depois assisti à manif dos sindicatos franceses, que incendiaram uma das primeiras edições a distribuir nos subterrâneos de Paris. Estava a começar a campanha para as presidenciais. Três dias depois o matutino começou a circular livremente. Por acaso com uma banca à porta de um café, no «meu» bairro. Quando por lá estou, e de manhã vou aos croissants, abicho um pasquim, sem me incomodar. De vez em quando compro um «Canard» e sonho com os «Rídiculos», quem se lembra?
Sou do tempo em que os jornais, matutinos e vespertinos, custavam uma «c'roa» ou cinco tostões, se preferirem. Não havia metro, debaixo dos pés, nem jornais gratuitos, e os ardinas esfalfavam-se, a correr pelas ruas, a trepar pelos eléctricos, Quando os autocarros fizeram a sua
(deles) aparição já os diários custavam oito tostões. Vendiam-se bem, os jornais, que criaram o hábito de ler quase tão natural como o de fumar.
Bom, vamos lá a ver, não havia, por esses tempos, um monte de coisas, que vai havendo agora e que ajudam as pessoas a prolongar-se no tempo. Morria-se por dá cá aquela palha. Os antibióticos ainda não tinham encetado carreira. Nem se cuidava saber dos malefícios do tabaco.
A necrologia era muita lida, apesar dos acidentes de viação serem escassos. A opinião de fundo era ligeira; as novas sobre as guerras eram confusas e a moral muito convencional. Já devem ter percebido que nem se imaginava por estes lado que houvesse, ou viesse a haver, televisão.
Pelo lado mais popular, havia o futebol, que levava as pessoas à bola e a ler jornais; e, o que não era pouco, o ciclismo, que tinha muitos adeptos e muita leitura nos jornais. Nem só pelo «volta a Portugal», as diversas corridas em pista tinham muitos entusiastas. Por um jogo de futebol ou por uma etapa da Volta consumiam-se edições e edição de vespertinos. Era frequente algumas das etapas mais alargadas justificarem três e por vezes quatros edições suplementares, até se saber quem ganhou a etapa. Nem a Rádio se metia nisso. No Rossio, ficava-se horas à espera
de ver no placar os resultados do futebol ou das etapas da Volta.
A Rádio transmitia, aos domingos, às sete e cinco da tarde/noite o resumo da primeira e o relato da segunda parte de um jogo de futebol do campeonato português e, em diferido, já se vê, que nesses idos, não havia nocturnos. A referência ao «sete e cinco» teve a intenção de sublinhar que às 19h05 já havia terminado o bloco de notícias.
Mas, meus senhores, entre as 17 horas, na rua, e as 19 na Rádio, muito jornal aparecia fresco a apregoar o «traz-a-bola».
Nesses tempos épicos um jornal era coisa séria. Uma empresa gráfica, que entre coisas várias, editava um jornal, possuia uma distribuidora própria para colocar no mercado o seu produto. A redacção de um matutino quase não parava. A redacção «fechava» entre as três e meia e as quatro de manhã. A Censura dava por encerrada às três da manhã. Depois disso só notícias sob responsabilidade do director. Mesmo assim, os acontecimentos chegavam frescos aos leitores, ávidos por novidades, pelas notícias.
O progresso foi madrasto para a imprensa escrita. Primeiro a Rádio, depois a Televisão, deram o salto. As notícias e os resultados do futebol chegavam primeiro pela Rádio e, mais recentemente,
pela Rádio e Televisão. Só depois surgem no papel. Ao princípio nem se registou quebra nos jornais. Quem ouvia o resultado na Rádio ou´na TV ficava impaciente para ler o que iriam explicar os jornais. Aliás era assim para quase todo o género de notícias. Não havia o hábito de digerir pelo som ou imagem. Era preciso ler no jornal. Eles lá explicavam de maneira que se entendesse!
Lembram-se quantos diários havia em Lisboa no Abril de 74? Quantos matutinos? Quantos vespertinos?
Em 76, Manuel Alegre jurava que o Século não podia fechar. Alguém se lembra do Jornal Novo?
E do Diário de Lisboa? Da República? Do Popular? E outros, sei lá quantos. Tentaram diminuir o peso. Perderam as oficinas; a distribuidora própria. Perderam sobretudo leitores. Aos poucos os jornais começaram a ser claramente o jornal de ontem. Os temas principais já são conhecidos de véspera. Qualquer notícia que irrompa depois das nove da noite e que movimenta todos os meios de Rádio e Televisão é muda na imprensa matutina.
O «metro» não é uma novidade lisboeta. Creio ter sido por iniciativa nórdica. O primeiro exemplar que li foi no Metro de Madrid. Anos depois assisti à manif dos sindicatos franceses, que incendiaram uma das primeiras edições a distribuir nos subterrâneos de Paris. Estava a começar a campanha para as presidenciais. Três dias depois o matutino começou a circular livremente. Por acaso com uma banca à porta de um café, no «meu» bairro. Quando por lá estou, e de manhã vou aos croissants, abicho um pasquim, sem me incomodar. De vez em quando compro um «Canard» e sonho com os «Rídiculos», quem se lembra?
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