sexta-feira, março 02, 2007

DESTINOS

O autocarro do costume (do meu) mudou de número e de percurso. A Casa da Imprensa também mudou. O número da porta é o mesmo e o posto médico no quarto piso, como dantes. Não foi isso que mudou, quero eu dizer. O governo entendeu fechar a caixa de previdência dos jornalistas, os ditos quais ficaram desprevenciados ou desprevenidos, isto é: sem o amparo da Caixa prestado à Casa. Jornalista sofre. Nem sequer pode recorrer, melhor dizendo: ir a correr, a Badajoz, para arrancar um dente ou parir, se for o caso do jornalista ser fêmea.
Frustrados, lixados e ofendidos, os jornalistas vão ser implacáveis. Vão atacar o Benfica e denuciar os encarnados de viverem à custa do Simão; insultar Pinto da Costa por apitar demais e acusar o Sporting de ter Paulo Bento a mais e vento a menos. Com jornalistas não se brinca. Claro, vai decerto reconhecer Sócrates. O governo não brinca e muito menos com os jornalistas! É a sério, pois! Sim senhor, muito a sério, como eles merecem, há-de ele dizer à Televisão e reforçar o carisma.
O que vale é que a oposição não dorme: come e cala, crente no efeito aterrador do silêncio, sobretudo se for um silêncio silencioso e minúsculo. Não se espere cataclismo do largo das Caldas, nem de Buenos Aires ou reacção dos destemidos de António Serpa.
Há excepções. Não viram o prof Martelo a criticar o desvio do pasquim que publica a súmula das marteladas domingueiras?
E, no dia seguinte, o matutino pespegava logo na primeira página a revelação cuidadosa do tamanho dos pirilaus dos portugueses, quer em condições de soberba ou na hora do sono.
Desconheço se o governo tremeu de emoção e face a isso tenha recuado nas urgências. O referendo recebeu um apoio prometedor e por seu lado concede um estímulo apreciável.
E, ontem, foram os polícias a fazer espera na auto-estrada. Entre motoristas enebriados e outros quase embriagados apareceu por lá Marques Mendes, que conversou com os guardas com amenidade e teve suficiente malícia para sublinhar a presença dos meios de comunicação social.
De facto o que melhor assegura o sucesso de uma operação sigilosa é a presença dos jornalistas.
Outro tema jornaleiro em foco é o dos diários gratuitos. A coexistência, pois... Nem vale a pena discutir: Ninguém é obrigado a ler jornal gratuito, pode comprar os que quiser. Pela minha parte nem borla perdia tempo a ler alguns dos que se pagam, apetecia mais dizer dos que se vendem, no sentido pejorativo do termo. Dêem os jornais, quanto mais à borla melhor. Em vez de suplementos ofereçam «camisinhas» perfumadas ou a pílula do dia seguinte. Em tempos de guerra não se limpam armas e se não há paz entre os Oliveiras, armai-nos, Senhor...

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