quinta-feira, setembro 29, 2005

SER OU NÃO ESTAR

É como estar e não ser. Convém sempre dar um toque pessoal para ficar melhor na fotografia. Eles já inventaram tudo e eu cada vez mais sei menos. Cada vez tenho mais dificuldade em entender os outros. Os «outros» sabem mais do que eu de bola; sabem mais do que eu de História. De política estão lixados porque eu não sei nada. Nem gosto, nem quero saber mais de quem sabe pouco. Não sei nem quero saber, o que me permite algum gozo. A idade ajuda a ignorância, dá-lhe cobertura.
Tudo quanto soube de economia já gastei. Quando era menino andava, às vezes, um pedaço a pé, até à paragem seguinte do eléctrico, para poupar três tostões; com eles podia comprar um pedaço de alfarrouba e meia dúzia de amendoins.
Conheci uma menina da minha idade, e nessa idade só eramos meninos, algures no Norte, onde fui de férias. Era longe porque andei uma noite inteira de comboio que tinha terceira classe, para quem quisesse poupar ou não tivesse massa para não poupar. A mãe da menina é que é personagem nesta crónica, não é a menina nem eu, que nem sabia o que fazer dela, além de brincar. A senhora trabalhava numa fábrica de camisas suecas de marca. A economia já funcionava. As senhoras que cosiam as camisas ou as cortavam antes de coser, alguém que tomava notas, as embalava, enfim: uma data de alguéns produzia para uma marca sueca. As camisas prontas saiam com destino à Suécia, que fazia delas o que melhor entendia.Em Portugal não se podiam vender, a não ser que fossem importadas e acho que não eram.
Naquela altura eu não compreendia e se fosse chinês se calhar também não. Mas era assim. Ainda não havia, à luz do Sol, partido comuna, que protestasse. Sempre era melhor que labutar no campo ou no comércio das mercearias. Terá sido assim que se inventou o Vale do Ave, que não era a mesma coisa, penso eu, que as fábricas de fazendas da Covilhã, onde se teciam tecidos de qualidade. Só muito depois, praticamente nos nossos dias, os automóveis vieram para cá ser montados. O princípio era o mesmo. E continua a funcionar com o mesmo impiedoso obectivo.
Não foram os chineses que inventaram isto. Não foram os chineses que desataram a fabricar ténis de marca. Foram empurrados através da exploração da mão de obra barata. As grandes marcas europeias e americanas foram andando, saindo aqui, indo para ali, até lá chegar.
Finalmente a Europa descobre que o que é barato sai caro...

Sem comentários: