domingo, janeiro 29, 2006

MANTO ALVO DE FANTASIA

Caiu um nevão sobre o meu quintal. Nevou na aldeia e na sede do concelho. E por todo o distrito. Um pouco por todo o país, afinal.
Em boa e honesta verdade já vinha nevando copiosamente sobre quase toda a Europa. Mas, nevar na Europa não é a mesma coisa que nevar aqui. Aqui só nevava praticamente na Covilhã e no seu (dela) quintal. A serra ultimamente era mais ardente e o sky a sair de moda. Parece que o efeito Anibal nas montanhas não era só mito. Desde que o homem ganhou Portugal mudou. Choveu a cântaros para os lados da Luz. O vermelho, faustoso e em constante progresso, embaciou, e Alegre se fez triste e o Benfica, que ia ganhando, de repente perdeu. E hoje nevou. Eu sei, eu vi, eu estava lá (no meu quintal)!
E um milhão e tal de votos para que serve? Talvez o ministro Freitas, coitado, pudesse dizer, mas o mais provável é ele nem querer lembrar-se. De projectos nado-mortos não reza a história. Um projecto é como o «euro-milhões», às vezes sai...
Não sei porque há tanto empenho em acusar Alegre de não ter ganho e não recriminar Sócrates por não saber escolher e, sobretudo, quando se viu metido na embrulhada não ter sabido dar a volta por cima. O facto é que quer Soares, quer o primeiro-ministro trataram o poeta abaixo de cão. E ele reagiu e ganhou respeito por ele próprio. Os que votaram nele e não quiseram votar nos outros apoiaram a sua decisão e discordaram de outras. Só isso. Não lhe encomendaram outro sermão.
Fui espreitar os telejornais. Só deu neve e às vezes coisa de nada. Há mais de cinquenta anos, em Lisboa. Eu sei, eu vi, eu estive no alto de Santa Catarina. Houve alguém que falou de 1945. Deve ter sido algum tempo antes.Também vi, também estive, no alto da Victor Cordon, que era onde eu morava, quando nevou, na minha estreia. Tinha menos de dez anos e nunca me esqueci. Foi um belo nevão e da minha água-furtada via vi imensos telhados brancos. Se queria tinha de ver, Não havia televisão, E havia guerra na Europa e nós tinhamos racionamento e muito frio. Brasas de carvão era tudo quanto havia. Tinham-se colados fitas de papel, nas janelas. Não era por mór da neve nem do frio, mas da guerra. Havia algum temor (ou forjava-se?) de que a guerra pudesse atravessar os Pirineus. Tinha que se tapar as janelas para não passar luz eléctrica. Era muita fruta para um garoto. Depois, o outro nevão apanhou-me no fim da adolescência e subi da Fernandes Tomás, onde, então, morava, para junto do Adamastor a ver nevar, até que o manto de neve cobriu o jardim.
Acho que voltou a nevar, mas já cá não vivia. Vi outras neves e outras gentes. E estive a ver, agora, o Porto empatar como Rio Ave. Nem senti frio. O vinho era alentejano e o queijo das beiras. Parece-me melhor táctica que a do Koelman, pelo menos não mete água! O Sousa, esse sim, improvisou um Movimento de Intervenção apropriado, não direi alegre mas, ao menos, divertido e sem incomodar muito o sucessor de Baía fez como Sócrates: aguentou o barco...
O Bento também tem o mesmo dilema que o poeta: como aguentar um milhão de lagartos até o Porto ir a Alavalade?

1 comentário:

CN disse...

quanto ao Freitas, o milhão e tal de votos que o homem teve, na altura, não lhe serviram de muito quanto chegou a hora de pagar as contas da campanha. o tipo teve de largar 10 mil contos do próprio bolso, porque nem o CDS o ajudou a pagar as dívidas...