Terminei o texto anterior, com o título "Ricardo Salgado Super Star", com uma pergunta sobre se a democracia tem a virtualidade de resolver situações como a que retratei.
Vou mais longe, na caracterização da situação que vivemos: uma democracia formal, do ponto de vista político, em que os cidadãos são chamados, regularmente, a eleger vários órgãos representativos. Uma não democracia económica e uma não democracia social, com uma comunicação social bem pior daquela que existia nos tempos da ditadura.
As eleições são, de há uns largos tempos atrás, manipuladas descaradamente por uma comunicação social completamente comprada, servida por jornalistas de pacotilha, sem opinião e sem espinha dorsal.
De resto, nos últimos anos tem acontecido que, mesmo do ponto de vista formal, a democracia não corresponde porque os partidos concorrem com determinados programas e depois que ganham as eleições alteram tudo e fazem exactamente o contrário do que prometeram. O uso e abuso desta prática retira à democracia que nos governa qualquer dignidade e transforma-se numa espécie de jogo de "chicos espertos", onde cada um procura a melhor maneira de enganar o maior número de pessoas possível.
O mesmo jogo aconteceu com a eleição presidencial. Cavaco Silva aproveitou o facto de os portugueses estarem fartos de ser enganados pelos partidos e apresentou-se a votos dizendo o menos possível, mas deixando claro que não quer nada com os partidos, o que o levou a ser considerado como o presidente ideal.
Este jogo pode conduzir-nos à situação de os partidos políticos, afinal o esteio da afirmação da democracia política, passarem a ser considerados um mal em si mesmos.
E quem quererá tal coisa?
As forças que apoiaram Cavaco Silva e que não deram a cara, mas que são facilmente identificáveis: são aqueles que à sombra de reivindicações de democraccia política se foram assenhoreando da riqueza que o país produz, não para investir mas para entesourar e exportar, para aplicar em negócios menos claros e alguns bem sujos.
De reivindicação em reivindicação, de pressão em pressão foram tomando conta do poder político, retirando-lhe a possibilidade de desenvolver a democracia social e económica.
Hoje, em Portugal, o poder político está nas mãos de meia dúzia de ricaços - uns banqueiros, outros com passagem pela polítca nos tempos em que a Europa mandava dinheiro a rodos e o sr. Silva o foi distribuindo.
O poder político não tem sequer capacidade para mandar instaurar uma auditoria às contas das grandes empresas para tentar perceber para onde vai o dinheiro que ganham. E é muito. Todos os anos, as grandes empresas e os bancos anunciam aumentos extraordinários de lucros. Mas, todos os anos diminuem a capacidade de criação de emprego. Quanto a investimentos , apesar de algumas delas anunciarem que são os maiores investidores, ele não se vê. O país está cada vez mais pobre.
E o que faz o poder político? monta esquemas de perseguição às pequenas e às micro empresas, aos trabalhadores por conta de outrém, deixando os grandes impérios financeiros a coberto de qualquer problema, pagando impostos ridículos, sempre protegidos por benefícios e incentivos fiscais.
O poder político é, na verdade, um instrumento na mão dos muitos ricos, cujo dinheiro já não está sequer em Portugal e o que cá está não se movimenta.
A democracia que elege estes órgãos políticos está velha caduca, não serve os interersses da maioria, não serve os interesses do país.
Além de lacaios e "chicos espertos", esta democracia produz dirigentes arrogantes, teimosos, que fazem da pose "quero, posso e mando" um modelo de vida e se revelam incapazes de perceber esta necessidade absoluta: é preciso fazer os possíveis para fazer do dinheiro um instrumento de desenvolvimento e não um fim em si mesmo.
Em Portugal já não há investidores, há apenas especuladores financeiros, que estão interessados em acabar com a "instabilidade" das mudanças políticas, ainda que elas sejam apenas aparentes. Eles confiam em que o sr. Silva dê uma ajuda para concretizar os seus objectivos.
E, afinal, em Portugal tudo é possível: aturámos o Salazar durante 40 anos... Eu confesso que nunca integrei nenhuma "manifestação espontânea", mas garanto que elas existiram.
2 comentários:
carissimo M.Pedrosa
Agradeço-lhe o seu reconfortante recado ao ver no meu atabalhoado esforço alguma utilidade. Mas a sua atenção coloca-me espectativas que eu sinceramente sei que na minha qualidade de leigo jamais poderei atingir. Por outras palavras: tou lixado!
um abraço e, como diria o outro, vamo-nos vendo por ai,,,
esqueci-me de assinar o aerograma:
Xico Pereira
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