É no poupar que se lixa o ganho. Quando a Carris era dos ingleses, os ingleses ganhavam. Quando Salazar comprou a Carris, os ingleses arrecadaram. A Carris portuguesa já estava feita. Possuia eléctricos e autocarros, mas...
...Mas, no entretanto a cidade enchera-se de popós, de vários tamanhos e diversas qualidades.
Até ao fim da guerra, os automóveis eram difíceis de obter e havia enormes listas de espera. As viaturas europeias surgiram em quantidade e com acessibilidade de preços. O que não era acessível era o tráfego. Os carros tropeçavam nos eléctricos. A engenharia do princípio de Século passado era pouco renitente em aceitar o progresso ou prever o futuro próximo. Os carris por onde os eléctricos serpenteavam foram colocados bem no meio das vias, ruas ou avenidas, o que forçava os automóveis e camiometas ou a seguir na cola dos «amarelos» ou a ultrapassalos pela direita!
As avenidas, ditas novas, possuiam, além de muitas e frondosas árvores e dos passeios laterais,
uma acolhedora vereda, bem no meio, muito agradável para quem andasse por ali a pé, como eu andei muitas vezes. Menos no meio, mas puxada para a esquerda, a linha do eléctrico e o dito por cima permitiriam que os carrros ultrapassassem as eléctricas viaturas. Permitiriam, disse bem. Na realidade não permitiam muito: as pessoas (não se ofendem se os disser clientes?) esperavam junto às paragens, em plena faixa de rodagem. Tempos houve que em certas calçadas outro tipo de transporte muito em voga levantava problemas: as carroças puxadas por cavalos ou burros, As pedras polidas faziam escorregar as bestas, que amouxavam. Era preciso
Desaparelhar a carroça do lombo do animal e ajudar o bicho e reerguer-se, recolocar a carroça e zarpar. Levava o seu tempo. Exasperava os neo-apressados prestes a tornar-se furiosos da velocidade. Se bem se recordam os mais idosos, a cidade estava cheia de chafariz e eles possuiam além de bicos ou torneiras, tanques, onde os animais aliviavam a sede.
Além da engenharia distraída, também a economia e os economistas se afiguravam um tudo nada primários. A Carris estava repleta de trabalhadores. Um para conduzir, outro para vender bilhetes e, de vez em quando outro para controlo, o chanado revisor. O que eu nunca entendi era o condutor, ser o que vendia bilhetes e o que conduzia o veículo, ess, ser o garda-freio. O mesmo, depois, nos autoccaros, mas, nestes, o guarda-freio era motorista.
Passou-se o mesmo quando, finalmente, chegou o «metro». Muita gente a trabalhar. Era como no comboio: vendiam-se bilhetes na bilheteira,vejam lá! Havia pessoal para controlar a entrada e o detestável revisor.
Foram-se fazendo tentativas para melhorar a circulação, umas conseguidas outras nem por isso.
Do Chile para o cemitério do Alto de S. João, os carris foram encostado à esquerda, junto dos passeios, ficando o centro da via livre para automóveis. Não valeu a pena o trabalho laborioso: a carreira por ali terminaria pouco depois.
Com a chegada da sacrossanta economia de ponta asa coisas mudaram, deshumanizaram-se. Grande parte do pessoal da carris, «metro» e «CP» foi dispensado. É a versão nova do «meio do caminho» de outrora. Menos gente gera mais lucro. Nem é verdade. As maquinetas custam caro e não substituem a mão de obra. Os preços foram inflaccionados porque sem controlo apertado é muita gente que se exime de comprar bilhete. Grosso modo, o motorista dos autocarros não pode, e se calhar não quer, controlar os passageiros. No «metro», basta ir ver: são imensos os que penetram sem ticket. «Eles» não são distraídos, sabem bem como é, mas preferem assim: paga o justo pelo pecador, aumenta-se o preço.
Podia ter-se optado por uma linha de salários baixos, que desse emprego temporário, para jovens, por exemplo, que dantes iam para o serviço militar obrigatório. Ñão seria necessário importar tanta maquineta. O aumento de pagantes compensaria a mão de obra, mesmo algo excessiva. Mais gente a trabalhar é mais gente sem tempo para passear por maus caminhos. O problema é que a economia não tem coração...
...Mas, no entretanto a cidade enchera-se de popós, de vários tamanhos e diversas qualidades.
Até ao fim da guerra, os automóveis eram difíceis de obter e havia enormes listas de espera. As viaturas europeias surgiram em quantidade e com acessibilidade de preços. O que não era acessível era o tráfego. Os carros tropeçavam nos eléctricos. A engenharia do princípio de Século passado era pouco renitente em aceitar o progresso ou prever o futuro próximo. Os carris por onde os eléctricos serpenteavam foram colocados bem no meio das vias, ruas ou avenidas, o que forçava os automóveis e camiometas ou a seguir na cola dos «amarelos» ou a ultrapassalos pela direita!
As avenidas, ditas novas, possuiam, além de muitas e frondosas árvores e dos passeios laterais,
uma acolhedora vereda, bem no meio, muito agradável para quem andasse por ali a pé, como eu andei muitas vezes. Menos no meio, mas puxada para a esquerda, a linha do eléctrico e o dito por cima permitiriam que os carrros ultrapassassem as eléctricas viaturas. Permitiriam, disse bem. Na realidade não permitiam muito: as pessoas (não se ofendem se os disser clientes?) esperavam junto às paragens, em plena faixa de rodagem. Tempos houve que em certas calçadas outro tipo de transporte muito em voga levantava problemas: as carroças puxadas por cavalos ou burros, As pedras polidas faziam escorregar as bestas, que amouxavam. Era preciso
Desaparelhar a carroça do lombo do animal e ajudar o bicho e reerguer-se, recolocar a carroça e zarpar. Levava o seu tempo. Exasperava os neo-apressados prestes a tornar-se furiosos da velocidade. Se bem se recordam os mais idosos, a cidade estava cheia de chafariz e eles possuiam além de bicos ou torneiras, tanques, onde os animais aliviavam a sede.
Além da engenharia distraída, também a economia e os economistas se afiguravam um tudo nada primários. A Carris estava repleta de trabalhadores. Um para conduzir, outro para vender bilhetes e, de vez em quando outro para controlo, o chanado revisor. O que eu nunca entendi era o condutor, ser o que vendia bilhetes e o que conduzia o veículo, ess, ser o garda-freio. O mesmo, depois, nos autoccaros, mas, nestes, o guarda-freio era motorista.
Passou-se o mesmo quando, finalmente, chegou o «metro». Muita gente a trabalhar. Era como no comboio: vendiam-se bilhetes na bilheteira,vejam lá! Havia pessoal para controlar a entrada e o detestável revisor.
Foram-se fazendo tentativas para melhorar a circulação, umas conseguidas outras nem por isso.
Do Chile para o cemitério do Alto de S. João, os carris foram encostado à esquerda, junto dos passeios, ficando o centro da via livre para automóveis. Não valeu a pena o trabalho laborioso: a carreira por ali terminaria pouco depois.
Com a chegada da sacrossanta economia de ponta asa coisas mudaram, deshumanizaram-se. Grande parte do pessoal da carris, «metro» e «CP» foi dispensado. É a versão nova do «meio do caminho» de outrora. Menos gente gera mais lucro. Nem é verdade. As maquinetas custam caro e não substituem a mão de obra. Os preços foram inflaccionados porque sem controlo apertado é muita gente que se exime de comprar bilhete. Grosso modo, o motorista dos autocarros não pode, e se calhar não quer, controlar os passageiros. No «metro», basta ir ver: são imensos os que penetram sem ticket. «Eles» não são distraídos, sabem bem como é, mas preferem assim: paga o justo pelo pecador, aumenta-se o preço.
Podia ter-se optado por uma linha de salários baixos, que desse emprego temporário, para jovens, por exemplo, que dantes iam para o serviço militar obrigatório. Ñão seria necessário importar tanta maquineta. O aumento de pagantes compensaria a mão de obra, mesmo algo excessiva. Mais gente a trabalhar é mais gente sem tempo para passear por maus caminhos. O problema é que a economia não tem coração...
2 comentários:
Gostei da análise e parabéns pelo blogue. Bom fim de semana.
Então de férias? Venham de lá mais textos.
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