sábado, setembro 02, 2006

REVIANDÂNCIAS

Da primeira vez que jornadeei foi claro por causa dele, do meu andante vizinho. Abalara de férias para o Leste desvalido e eu sou um invejoso desvairado. O gajo não se fica a rir. Prometi-me. E fui e quase que cheguei a Almada. E não é que o tipo, deve ser ele deve, ainda que disfarçado, reabalou para o Leste, o próprio, o supra.
Fiz a trouxa e matutei: «e agora?» Agora matuta, desenrasca. Matutei e deliberei. Ala para o Peso da Régua. E já.
Já fui. Comecei, bem entendido, por ir ao Porto e como quem não quer a coisa descer á Ribeira e perguntar ao gajo dos botes como era isso de ir à Régua. Fácil: 50 paus, com pequeno almoço. almoço e regresso de comboio.
Simples demais. Já que estava ali, comi umas lulas recheadas e voltei a Lisboa. Convidei a filha a convidar-me a ir na carro dela. E lá fomos, pela manhã. Em Vizeu parou-se para mastigar. Para alguma coisa há-de servir O Cortiço! Depois Lamego, a espreitar, debaixo, a Senhora
dos Remédio. A cidade engalanada por mór das festas. Finalmente a Régua, de passagem, rumo a Mesão Frio e parar numa de turismo rural. Um acolhimento simpático e um quarto com vistas para o Douro, a serpentear lá embaixo, por entre os montes. Não tem nada a ver com S.Pedregulho sabe Deus de quê mas possui mistérios deliciosos, como o de encher o Marão de socalcos, plantar vinhas e fazer Vinho do Porto. Dá para perceber que também sei de culturas. Fica-se enbevecido a espreitar o rio, sentado na varanda a beberricar um copo.
De manhã cedo, finalmente o comboio do Tua e dali para Mirandela. É do caraças! Não sei explicar melhor. Houve na Régua um escritor,que também era médico que sabia explicar muito bem o que era a paisagem, mas ele enfiava o homem trasmontano de tal maneira que parecia o Deus da Amália a perfumar as rosas e pratear o luar. O trem que desce a serra montanhosa por entre rochas graníticas, à beira de precipícios medonhos não é só uma imagem soberba. Fica retida na memória. Não sei gabar aquilo. Se quiserem façam o favor de ir ver.
À noite fui comer a Vila Real. Antes, enquanto a filha fazia a ronda das lojas de trapos, eu fui à tasca do Alemão. Não sei se Miguel Torga alguma vez escreveu sobre a tasca, a última, desoladoramente esvasiada de frequentadores. Se ele que cantou como ninguém aquele soberbo naco da Natureza não citou a taberna do Alemão, não sou eu que vou ser capaz de o fazer, mas posso garantir que vale a pena trepar lá atrás dos montes só pra disfrutar a Tasca e, já agora, ir nos comboios do Tua. Não troco por Moscavide, seja lá ela onde for.
Jantei na rua, à fresca. Descontraído. É bom quando é a filha que conduz...
E fui com ela, a S. Leonardo, só para ver o rio lá de cima. Vi, claro e não vou perder tempo a contar que é bonito. Que se lixem os que nunca viram e se lixem mais os que não forem ver.
Deu para perceber que sou um portuga nato,hein! E se eu vos dissesse que uma semana depois,voltei à Régua, ao hotelzinho campestre, que cambaleei no comboio da montanha e fui à Tasca do Alemão e rejantei na rua. Desta vez com o filho mais novo, que também conduz, que, como a irmã, habita a África.
As viagens são para quem as merece. Mesmo assim nada sei do Mateus, nem da família dele. Menos ainda se o Valentim é Valentão. Duvido da lealdade à Cunha. E se só um terramoto pode
derrubar Madail, que não sabe não viu, nem estava lá, então senhor Blatter, sirva-se e se quiser ir à Régua, faça favor, mas lá que um processo judicial lhe ficava a matar, lá isso ficava. Se o bom Deus assim o quisesse e os meninos da fifa tivessem que responder em juizo e eu prometo que faria uma viagem à Suiça e havia de acender uma vela...

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