segunda-feira, janeiro 23, 2006

A Loira da Rua 48 Deixa de Ouvir

São nove horas da noite de 22 de Janeiro. A Loira da Rua 48 desligou a Televisão e disse às suas meninas: "filhas, está na hora de deitar, amanhã é dia de trabalho, de escola..."

- "...Mãe, porque desligaste a televisão? ", perguntou a Marilú, sempre a mais atrevida. "...Não gostas do senhor que ganhou as eleições...?"

- ... " Qual senhor?... quais eleições... oh! filha, estás doente, com febre, a delirar?... o melhor é chamar o sr. dr...."

-..." Não precisa..." - diz a Francisquinha, mais calma e a aconchegar-se ela mesma. "Tem calma, mamã, está tudo bem. Nós estamos bem e a a Marilú está a ser inconveniente..."

- A Loira da Rua 48 saíu do quarto das filhas e foi para a janela, para tentar explicar alguma coisa. Que diabo! Tinha havido uma eleição presidencial, pela primeira vez em mais de trinta anos alguém da direita tinha ganho, logo à primeira volta e, todavia, a cidade era um sepúlcro. Os homens da televisão diziam "cresce a olhos vistos a multidão junto ao Centro Cultural de Belém". Lá dentro eram imagens de gente que ninguém via há mais de dez anos. Velhos, a cair da tripeça, mas com ar de ricos... a bater palmas.

Lá fora, meia dúzia de bandeiras agitavam-se segundo a batuta do contra-regra do espectáculo...

A cidade permanecia silente. Que presidente é este que é eleito sem um clamor de alegria? Só pode ter sido uma eleição de raiva, contra alguma coisa. E aí a loira percebeu que não tinha deixado de ouvir e preparou-se para os próximos cinco anos, de pura raiva.

2 comentários:

Anónimo disse...

O Professor Cavaco Silva é um Gajo Porreiro

Isabela Figueiredo disse...

Também reparei nesse silêncio, curiosamente. Não houve barulho de carros, apitos, nada. É verdade.