Eu sei, é o título de filme, bem divertido, por sinal e nem vem a propósito. Só fui de viagem e não foi ao além, nem por lá vasculhei. Foi só até Paris e com alguns devaneios pelo caminho. Ah! querem algumas impressões? Claro, pois e rebuscadas, de preferência. Então lá vai: Paris é enorme; o Louvre, também. Tem muita gente, muita. E alguns são brancos. É uma chatice. Só dá para andar de «metro». As avenidas são quase todas como a do túnel do Santana: alargadas, esburacadas e sem fim (à vista!). O trânsito fica um pandemónio, mas... Vocês sabem, é com obras, muitas obras, que se ganha para os alfinetes! E, caramba!, aquela gente e aqueles partidos precisam de afiar alfinetes como de pão para a boca. Quando lá estive, o ano passado, tinha havido zaragata num bairro periférico e dois adolescentes, que fugiam à polícia,
enfiaram-se onde não deviam e morreram electrocutados. Este ano foram recordados como vítimas inocentes de um sistema canibalesco, que obriga os inocentes a gamar e a agredir quem não se quer deixar gamar. Também se recordou, mas ao de leve, uma senhora do mesmo bairro que foi assassinada, na mesma altura, por outro bando de amigos do alheio.
Muito parecidos comigo estão a ficar, também, os criativos realizadores de telefilmes. Não se matam a andar para a frente, a criar ou projectar o futuro, servem-se do passado, uma vez por outra recente, para a sua obra. Recriam escândalos escandalosos e apimentam o assunto. É giro reconhecer que são assuntos escaldantes, como, por exemplo, a recriação de um caso que nos tocou de perto: o afundamento do «Rainbow Warrior», atracado num porto da Nova Zelândia, o barco pacifista que prometia navegar pela zona escolhida pelos militares franceses para efectuar experiências nucleares, de que resultou a morte de um fotógrafo português, que cobria o acontecimento polémico.
Pessoalmente eu lembrava-me do caso e estava justamente em Paris, para cobrir as eleições presidenciais, naquela altura. O candidato Chirac, então primeiro-ministro, tinha efectuado uma diligência deligente e conseguira a libertação de uma agente militar secreta, que participara no atentado que fez explodir e afundar o navio, que era suposto estar vazio, mas onde dormia o inditoso fotógrafo português. Ela e um parceiro foram desaastrados e facilmente identificados, presos, julgados e condenados. A capitoa, ou coisa que o valha, cumpria pena numa ilha, num regime compreensivo. O marido podia visitá-la ou passear com ela pela praia e por outros sítios, uma vez que a senhora engravidou, quando deu jeito. Tanto quanto me recordo, a gravidez foi o pretexto para ser solicitada a transferência da reclusa, que deveria cumprir o resto da pena num presídio militar francês.
Eu estou a fazer o mesmo que fez o cineasta: a deixar para trás a tónica. A experiência que o barquito procurava abortar era evidentemente o lançamento de um engelho nuclear, a que se chamava quando eu era miudo bomba atómica. Quem era presidente da República francesa era Mitterrand e os militares não iriam por ali fora sem que o ilustre chefe socialista estivesse pelos conformes. Quando o escândalo rebentou quem teve que dar a cara foi o jovem ministro Fabius, que também teve que aguentar com o escândalo do sangue contaminado, não levou muito tempo a ser posto de lado. Tudo isso conduziu a que a Assembleia Legislativa fosse ao ar e a direita voltou a liderar as eleições de que resultou o primeiro e notório acasalamento político: presidente de esquerda e primeiro-ministro de direita. As nacionalizações foram desnacionalizadas, o primeiro-canal de TV privatizado. Uma festa. Chirac pairava e desvairava.
Mitterrand mantinha-se na sombra e ia dando lenha a Chirac. O fiasco na Bolsa afectou muitos países e afogou Chirac. Ele bem trouxe a menina «que se sacrificara» pela pátria e trouxe outros azarentos «pacificadores» de outro lado. Mitterrand sorriu e foi mortífero quando se rcusou a comentar um caso tão delicado em momento eleitoral.
Às quatro da tarde de domingo, nas intalações da Rádio France o telex da Lusa, perdão da France Press dava conta da vitória de Mitterrand, com 54% dos votos. Desde manhã que o Presidente recolhia favoritismo e liderava todas as previsões.
Reeleito, Mitterrand não nacionalizou mais nada. Arregaçou as mangas e passou o mandato a acertar contas com o seus pares socialistas. Esmagou e espezinhou alguns dos mais notáveis políticos socialistas.
O telefilme torceu-se um pouco para nem tocar em Mitterrand. De Fabius recuperou uma imagem do então jóvem membro do governo, absolutamente confuso sobre o que se tinha passado.
E o que se passara fora simplesmente um acto de terrorismo puro e duro. O governo francês considerou ofensivo que o movimenteco dito pacifista tentasse travar o progresso nuclear, agora, como se sabe, ao alcance de qualquer Irão que por aí ande. A senhora, e o senhor que a acompanhou no atentado, eram James Bond's de trazer por casa e foram consumar o atentado no país terceiro, não era bem a heroína que a Televisão quis fazer passar. Possivelmente nem andou à tareia com as outras reclusas, por crimes menores, como a mostraram no televisor, nem isso interessa. O que interessa é o terrorismo. No fim de contas é um acto repulsivo ou heróico. Talvez possa ser as duas coisas, mas nesse caso deve ser assumido. Na América o fime sobre o atentado das torres foi um hino ao pundonor do bombeiro, em França canta-se a valentia
da terrorista. Quem terá chorado pela sorte do fotógrafo?
enfiaram-se onde não deviam e morreram electrocutados. Este ano foram recordados como vítimas inocentes de um sistema canibalesco, que obriga os inocentes a gamar e a agredir quem não se quer deixar gamar. Também se recordou, mas ao de leve, uma senhora do mesmo bairro que foi assassinada, na mesma altura, por outro bando de amigos do alheio.
Muito parecidos comigo estão a ficar, também, os criativos realizadores de telefilmes. Não se matam a andar para a frente, a criar ou projectar o futuro, servem-se do passado, uma vez por outra recente, para a sua obra. Recriam escândalos escandalosos e apimentam o assunto. É giro reconhecer que são assuntos escaldantes, como, por exemplo, a recriação de um caso que nos tocou de perto: o afundamento do «Rainbow Warrior», atracado num porto da Nova Zelândia, o barco pacifista que prometia navegar pela zona escolhida pelos militares franceses para efectuar experiências nucleares, de que resultou a morte de um fotógrafo português, que cobria o acontecimento polémico.
Pessoalmente eu lembrava-me do caso e estava justamente em Paris, para cobrir as eleições presidenciais, naquela altura. O candidato Chirac, então primeiro-ministro, tinha efectuado uma diligência deligente e conseguira a libertação de uma agente militar secreta, que participara no atentado que fez explodir e afundar o navio, que era suposto estar vazio, mas onde dormia o inditoso fotógrafo português. Ela e um parceiro foram desaastrados e facilmente identificados, presos, julgados e condenados. A capitoa, ou coisa que o valha, cumpria pena numa ilha, num regime compreensivo. O marido podia visitá-la ou passear com ela pela praia e por outros sítios, uma vez que a senhora engravidou, quando deu jeito. Tanto quanto me recordo, a gravidez foi o pretexto para ser solicitada a transferência da reclusa, que deveria cumprir o resto da pena num presídio militar francês.
Eu estou a fazer o mesmo que fez o cineasta: a deixar para trás a tónica. A experiência que o barquito procurava abortar era evidentemente o lançamento de um engelho nuclear, a que se chamava quando eu era miudo bomba atómica. Quem era presidente da República francesa era Mitterrand e os militares não iriam por ali fora sem que o ilustre chefe socialista estivesse pelos conformes. Quando o escândalo rebentou quem teve que dar a cara foi o jovem ministro Fabius, que também teve que aguentar com o escândalo do sangue contaminado, não levou muito tempo a ser posto de lado. Tudo isso conduziu a que a Assembleia Legislativa fosse ao ar e a direita voltou a liderar as eleições de que resultou o primeiro e notório acasalamento político: presidente de esquerda e primeiro-ministro de direita. As nacionalizações foram desnacionalizadas, o primeiro-canal de TV privatizado. Uma festa. Chirac pairava e desvairava.
Mitterrand mantinha-se na sombra e ia dando lenha a Chirac. O fiasco na Bolsa afectou muitos países e afogou Chirac. Ele bem trouxe a menina «que se sacrificara» pela pátria e trouxe outros azarentos «pacificadores» de outro lado. Mitterrand sorriu e foi mortífero quando se rcusou a comentar um caso tão delicado em momento eleitoral.
Às quatro da tarde de domingo, nas intalações da Rádio France o telex da Lusa, perdão da France Press dava conta da vitória de Mitterrand, com 54% dos votos. Desde manhã que o Presidente recolhia favoritismo e liderava todas as previsões.
Reeleito, Mitterrand não nacionalizou mais nada. Arregaçou as mangas e passou o mandato a acertar contas com o seus pares socialistas. Esmagou e espezinhou alguns dos mais notáveis políticos socialistas.
O telefilme torceu-se um pouco para nem tocar em Mitterrand. De Fabius recuperou uma imagem do então jóvem membro do governo, absolutamente confuso sobre o que se tinha passado.
E o que se passara fora simplesmente um acto de terrorismo puro e duro. O governo francês considerou ofensivo que o movimenteco dito pacifista tentasse travar o progresso nuclear, agora, como se sabe, ao alcance de qualquer Irão que por aí ande. A senhora, e o senhor que a acompanhou no atentado, eram James Bond's de trazer por casa e foram consumar o atentado no país terceiro, não era bem a heroína que a Televisão quis fazer passar. Possivelmente nem andou à tareia com as outras reclusas, por crimes menores, como a mostraram no televisor, nem isso interessa. O que interessa é o terrorismo. No fim de contas é um acto repulsivo ou heróico. Talvez possa ser as duas coisas, mas nesse caso deve ser assumido. Na América o fime sobre o atentado das torres foi um hino ao pundonor do bombeiro, em França canta-se a valentia
da terrorista. Quem terá chorado pela sorte do fotógrafo?
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