Ontem à noite, finalmente, tive que admitir de mim para mim: estou cansado de ser português. Não estou a dizer que não gosto - só que estou cansado.
Nas várias fases da minha vida sempre tive que aturar a condição de português daqueles com quem tive, de algum modo, trabalhar, tentar fazer isto ou aquilo. E foi sempre muito didífil.
Sobretudo com as pessoas que, mais ou menos de repente, sem que se saiba porquê, assumem posições de poder, por pouco que seja. Ficam logo inacessíveis, com secretárias muito "in", muito "tias" a dizerem que o "o sr. engº ou o senhor dr. está numa reunião".
Em Portugal não se pode levar a cabo um projecto diferente, com mérito - toda a gente gosta muito, mas tudo fica a torcer para que acabe, tropece, se estatele... ou então avançam para a cópia de baixa qualidade, na esperança de recolher os méritos...
Os governos sucedem-se nas promessas e nas mentiras. Aproveitam pouco do que está para trás e refazem tudo - sempre com os mesmos argumentos e os mesmos objectivos: servir os amigos de modo a que, mais tarde, também possam ser servidos.
Gostava de, uma vez por outra, ouvir um primeiro-ministro com um tom de voz normal, a falar com os cidadãos, sem dar a impressão que está zangado e a ralhar com toda a gente.
Sei lá... gostava de viver numa comunidade de gente educada, que não está sempre em reunião, naquelas reuniões que nunca acabam, porque eles ou elas nunca devolvem os telefonemas.
Uma das minhas grandes ambições era saber que o ministro da ciência e tecnologia tinha capacidade para perceber que há coisas que ele tem que apoiar - a sociedade civil está à espera que o aumento de orçamento signifique essa compreensão.
Confesso-me cansado e sem jeito para esta condição. Gostava de pertencer a uma comunidade onde as pessoas, para além de se divertirem a beber uns copos e ir à praia, tivessem disponibilidade para apreciar o esforço dos outros, o mérito dos outros - mesmo que não sejam amigos.
Gostava de viver numa comunidade que ao falar de juventude não estivesse a pensar nos filhos dos amigos e nos seus próprios, mas em toda a Juventude, fazendos os possíves por enquadrar os seus projectos.
Estou cansado, mas irritado, porque gosto. Será uma manifestação de masoquismo?
6 comentários:
I am ashamed to be spanish
compreendo e conheço a sensação
"Os governos sucedem-se nas promessas e nas mentiras. Aproveitam pouco do que está para trás",mas,,,
os objectivos são comuns e fazem parte duma estratégia pré-definida. O verdadeiro golpe (o da Tanga, lembram-se?) foi dado pelo Barroso para privatizar os sectores fundamentais da economia,energia, a saúde, a educação, correios, etc e o que mais houver. O Sócrates persegue aquilo que qualquer governo assumidamente conservador jamais poderia fazer.
Esperem pela pancada e eis que os outros voltam para gerir os ganhos em velocidade de cruzeiro.
O Cavaco foi "eleito" pela comunicação social para zelar por isso, pela alternância entre duas corporações que representam ambas a mesmissima coisa - o neoliberalismo armado aplicado pela Nato em nome do mercado sobre tudo o que é consumidor.
Cá ao filho da ti Maria é que nunca mais me apanham a votar, salvo em Assembleias Populares nalgum dia longinquo.
(ainda falta muito para o dia de Santo António, o melhor português de sempre eheheh)
Conheço essa sensação convívo com ela todas as semanas desde há 20 anos. Boa semana.
mas q raio!!! c tds os defeitos, orgulho-me de ser portuguesa! beijinho meu querido : )
Li e reli o texto e às vezes (e vão sendo mtas) tb me acomete este sentimento. Apetece fugir e fugir mto daqui e depressa para não ser apanhada na voragem dos clichés que abundam na sociedade portuguesa destes últimos tempos. Vale tudo! mas como dizia hje ao meu filho no caminho para as aulas há que quebrar o ciclo, mesmo que a brecha seja apenas uma pequena fenda, mas há que dar um passo!
E mesmo qdo nos sentimos mto cansados e desanimados ainda há forças que nos animam a não desistir em nome da JUVENTUDE que vem atrás de nós.
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