domingo, novembro 05, 2006

PRETÉRITOS

Eram por exemplo os verbos no passado. No presente, os tempos mais adequados são necessariamente os do conjuntivo com o indispensável «se» na conjugação. Se não chover talvez o comboio chegue a algures. A conjuntivite é cada vez mais impiedosa, cada vez há mais ses e menos complemento directo. O Século, o Mosquito ou a Vida Mundial perderam-se no condicional. Recordo-me de debitar de pé o pretérito imperfeito; impingiram-me o impossível pretérito mais que perfeito. Naquele tempo só poderia ser o 28 de Maio. O Abril incompatível
conjugou-se depois porque a ordem dos factores é arbitrária.
No mais possível presente do indicativo condenaram Saddam Hussein à morte. Na forma pretérita, presumivelmente imperfeita, amarraram Jeanne D'Arc a um poste, pegaram-lhe fogo a extinguiram-lhe a vida. Além de matarem a senhora, os ingleses fizeram a América e encheram-na de americanos conjuntivos, que haveriam de estragar o chá que havia na Pérsia, que ficou intragável.
Ah!, já sei, já me lembro, era por mór do apagão que me sentei a escrevinhar, tende em mente que ao princípio era o verbo. Li do apagão, em Lisboa e Paris, aqui mesmo, no computa, mas não nos jornais. Foi entre as nove e as dez da noite. Para os jornais lisboetas, mas não só, o «ontem» acaba à roda das oito menos um quarto, ou coisa assim. Acontecimento às nove já não dá. E é isto que vai matando os jornais. Nos abomináveis velhos tempos, a «Censura» fechava às três da madrugada. Depois as notícias eram da responsabilidade do director do pasquim, que nessa altura já estaria a dormir. A tipografia pertencia ao jornal (ou vice-versa) e a distribuidora também. E havia recurso a segundas ou terceiras tiragens, geralmente por causa da Volta a Portugal em pasteleira ou do foot dominical. Tá bem, tá bem... não havia TV e a Rádio dava poucas notícias e raros directos. Pois, pois, é isso. Mas não abusem...

1 comentário:

Anónimo disse...

Saudades desses tempos pretéritos. Boa semana.