Fernando Caiado morreu. Li no «Público» e comoveu-me. Também me irritou. Disseram dele que era um «médio com características defensivas». Não era, não senhor, não era! Lembro-me bem dele no Boavista. Internacional português, era avançado num lugar que já não se usa no futebol actual: Meia-ponta, interior esquerdo. Nos tempos idos, quando o futebol era coisa de domingos, à tarde e havia uma semana inteira para digerir. Um off side era coisa séria. Não havia maneira de controlar. O fora de jogo era quase sempre um roubo para um dos lados, até porque o árbitro nunca via os fora de jogo dos outros, como com as grandes penalidades. Agora é pior porque a televisão mostra e o pior cego é o que não quer ver e em geral o estádio está cheio de ceguetas.
Comecei a ir à bola muito miudo. Retive na memória a primeira vez (que fui à bola, a outra foi alguns anos depois...) nas Amoreiras. Nem vi o jogo. No peão só dava para ver as costas dos da frente. Mas depois, na estância de madeiras aprendi a ver sentado ou de pé nas bancadas. Aprendi também com os jornais e até aprendi com eles que eles informavam mal. Por exemplo os jornais (e a rádio, com Alfredo Quádrios Raposo, na Emissora, ou o Domingos Lança Moreira, no Rádio Clube) escreviam (ou diziam) a constituição das equipas mais ou menos assim: Capela, Vasco e Feliciano; Amaro, Gomes e Serafim... Azevedo, Cardoso e Manuel Marques; Canário Barrosa e Veríssimo... Martins, Gaspar Pinto e César Ferreira. Jacinto, Moreira e Francisco Ferreira... No Porto, era: Barrigana,Alfredo e Guilhar (os outros já lá vai!)...
No campo já não era assim, o que se via era o Feliciano a central, como o Manuel Marques, no leões, Gaspar Pinto, no Benfica, e Guilhar, no Porto. Pelos fins dos anos trinta, do Século que já lá vai, começaram a aparecer refugiados hungaros ou checos que puxaram o esquema de jogo para o WM, deixando cair o até então «clássico», mas só se deu por isso, quando se tornou obrigatório numerar as camisolas, ainda que limitados a onze números, porque nesses bons velhos tempos só jogavam onze de cada lado.
Cândido de Oliveira, Ornelas, Tavares da Silva e poucos mais iam dando dicas. Começou-se pelo quadrado mágico, os dois médios e os dois interiores, a comandar a estratégia, Depois, já pelos meados dos anos 50 foi avançando um dos interiores e recuando um dos médios. Começava um tal quatro dois quatro, que no Brasil se definia com Diagonal. De uma vez, um artista seleccionador levou para Espanha uma selecção pomposamente de quatro em linha. O recuado foi, imagine-se o jovem Caiado, empurrando-se Travassos para a extrema esquerda. Correu mal. A Espanha ganhou por cinco-um. Na segunda parte, Travassos passou para o seu lugar de interior e Caiado relegado para extremo, ficando «reduzido à ínfima espécie», escreveu Tavares da Silva no Diário de Lisboa e os «Ridículos» também glosaram com «quatro em linha e um à boa vida».
Para Caiado sair do Boavista não foi fácil. Foi necessária uma assembleia geral e premente que Baptista ameaçasse sair do futebol se teimassem em cortar as pernas ao jogador. E lá foi para Lisboa e para o Benfica. Mas não foi fácil.
No Benfica subsistia uma velha questão: Rogério. Muito jovem revelou-se prodigioso a jogar na ala esquerda do ataque. Jovem, muito rápido e com uma técnica muitos furos acima da média tomou o lugar de Valadas até que, de supresa, foi para o Brasil, onde era mais um dentro da média e onde aprendeu que o seu lugar não era ma extrema, mas na zona criativa. Era a camisola 10 que lhe assentava bem.
Regressou a Lisboa e ao Benfica, que tinha nessa altura um treinador inglês: Ted Smith. Mas tinha também dirigentes mandões entre os quais o presidente, um cambista da Baixa lisboeta. Eles achavam que Rogério era extremo esquerdo. E passavam o tempo a comprar interiores esquerdos, cada um deles pior que o outro. Fernando Caiado viria a ser mais um, não obstante
Smith ter acreditado ter o seu criativo na meia esquerda. Foi com o «dez» na camisola que Rogério foi campeão latino. Com a ansia de arranjar um dez que pusesse Rogério na extrema, o Benfica lá foi buscar Fernando Caiado. E não ficou por aí, ainda foi buscar o Vieirinha ao Estoril Praia
Quando a direcção do clube entendeu prescindir de Felix, um central de grande classe, punindo-o com um ano de suspensão e suspendendo igualmente Rogério, mas permitindo a este organizar a feste de despedida, a meias com Feliciano, do Belenenses, o Benfica teve a chance de comprar Costa Pereira e Coluna, que chegaram para Otto Glória. Este não demorou muito a colocar Caiado no meio campo, a alimentar o ataque. Não tinha colega certo à sua esquerda. De uma das vezes foi Angelo, defesa esquerdo a alimentar o quarteto da frente! Mas por fim o cargo foi entregue a Coluna, que foi evoluindo bem depressa. Caiado instalou-se definitivamente a alimentar o ataque. E podia dar-se ao luxo de exibir alguma veterania, o moçambicano da esquerda tinha estofo por dois!
Mesmo depois de deixar de jogar, Fernando Caiado ainda foi esteio do Benfica. Merecia bem ser melhor recordado pelos jornalistas, pelo Benfica e até pelo Boavista...
Comecei a ir à bola muito miudo. Retive na memória a primeira vez (que fui à bola, a outra foi alguns anos depois...) nas Amoreiras. Nem vi o jogo. No peão só dava para ver as costas dos da frente. Mas depois, na estância de madeiras aprendi a ver sentado ou de pé nas bancadas. Aprendi também com os jornais e até aprendi com eles que eles informavam mal. Por exemplo os jornais (e a rádio, com Alfredo Quádrios Raposo, na Emissora, ou o Domingos Lança Moreira, no Rádio Clube) escreviam (ou diziam) a constituição das equipas mais ou menos assim: Capela, Vasco e Feliciano; Amaro, Gomes e Serafim... Azevedo, Cardoso e Manuel Marques; Canário Barrosa e Veríssimo... Martins, Gaspar Pinto e César Ferreira. Jacinto, Moreira e Francisco Ferreira... No Porto, era: Barrigana,Alfredo e Guilhar (os outros já lá vai!)...
No campo já não era assim, o que se via era o Feliciano a central, como o Manuel Marques, no leões, Gaspar Pinto, no Benfica, e Guilhar, no Porto. Pelos fins dos anos trinta, do Século que já lá vai, começaram a aparecer refugiados hungaros ou checos que puxaram o esquema de jogo para o WM, deixando cair o até então «clássico», mas só se deu por isso, quando se tornou obrigatório numerar as camisolas, ainda que limitados a onze números, porque nesses bons velhos tempos só jogavam onze de cada lado.
Cândido de Oliveira, Ornelas, Tavares da Silva e poucos mais iam dando dicas. Começou-se pelo quadrado mágico, os dois médios e os dois interiores, a comandar a estratégia, Depois, já pelos meados dos anos 50 foi avançando um dos interiores e recuando um dos médios. Começava um tal quatro dois quatro, que no Brasil se definia com Diagonal. De uma vez, um artista seleccionador levou para Espanha uma selecção pomposamente de quatro em linha. O recuado foi, imagine-se o jovem Caiado, empurrando-se Travassos para a extrema esquerda. Correu mal. A Espanha ganhou por cinco-um. Na segunda parte, Travassos passou para o seu lugar de interior e Caiado relegado para extremo, ficando «reduzido à ínfima espécie», escreveu Tavares da Silva no Diário de Lisboa e os «Ridículos» também glosaram com «quatro em linha e um à boa vida».
Para Caiado sair do Boavista não foi fácil. Foi necessária uma assembleia geral e premente que Baptista ameaçasse sair do futebol se teimassem em cortar as pernas ao jogador. E lá foi para Lisboa e para o Benfica. Mas não foi fácil.
No Benfica subsistia uma velha questão: Rogério. Muito jovem revelou-se prodigioso a jogar na ala esquerda do ataque. Jovem, muito rápido e com uma técnica muitos furos acima da média tomou o lugar de Valadas até que, de supresa, foi para o Brasil, onde era mais um dentro da média e onde aprendeu que o seu lugar não era ma extrema, mas na zona criativa. Era a camisola 10 que lhe assentava bem.
Regressou a Lisboa e ao Benfica, que tinha nessa altura um treinador inglês: Ted Smith. Mas tinha também dirigentes mandões entre os quais o presidente, um cambista da Baixa lisboeta. Eles achavam que Rogério era extremo esquerdo. E passavam o tempo a comprar interiores esquerdos, cada um deles pior que o outro. Fernando Caiado viria a ser mais um, não obstante
Smith ter acreditado ter o seu criativo na meia esquerda. Foi com o «dez» na camisola que Rogério foi campeão latino. Com a ansia de arranjar um dez que pusesse Rogério na extrema, o Benfica lá foi buscar Fernando Caiado. E não ficou por aí, ainda foi buscar o Vieirinha ao Estoril Praia
Quando a direcção do clube entendeu prescindir de Felix, um central de grande classe, punindo-o com um ano de suspensão e suspendendo igualmente Rogério, mas permitindo a este organizar a feste de despedida, a meias com Feliciano, do Belenenses, o Benfica teve a chance de comprar Costa Pereira e Coluna, que chegaram para Otto Glória. Este não demorou muito a colocar Caiado no meio campo, a alimentar o ataque. Não tinha colega certo à sua esquerda. De uma das vezes foi Angelo, defesa esquerdo a alimentar o quarteto da frente! Mas por fim o cargo foi entregue a Coluna, que foi evoluindo bem depressa. Caiado instalou-se definitivamente a alimentar o ataque. E podia dar-se ao luxo de exibir alguma veterania, o moçambicano da esquerda tinha estofo por dois!
Mesmo depois de deixar de jogar, Fernando Caiado ainda foi esteio do Benfica. Merecia bem ser melhor recordado pelos jornalistas, pelo Benfica e até pelo Boavista...
1 comentário:
Bonita homenagem, a um grande jogador, dos tempos em que dava gosto ver jogar futebol. Boa semana.
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