segunda-feira, maio 15, 2006

QUEM FEIO AMA

Melhor dizendo: se és bom junta-te aos maus, que é deles o reino. Comprei a revista para me regalar com os desenvolvimentos do escândalo que envolve o presidente francês e o seu (dele)
primeiro-ministro, a senhora dos Negócios Estrangeiros e o artista do Interior. Mas caí, por acaso, num artigo delicioso, que nem chamada tinha na primeira página, sobre a Fifa. Um book sobre os personagens da organização, acabado de sair em Londres, com autoria do jornalista britânico Andrew Jennings. O livro é demolidor e revela uma porção de escândalos. Tem todo o ar de ser um ajuste de contas. Não é exactamente um texto crítico sobre o organismo que tutela o mundo do futebol ou sobre a actuação dos seus dirigentes, mas a denúncia de quem efectivamente controla, e porquê, a instituição.
Tudo terá começado por um tal Dassler, patrão da Adidas, que soube ganhar influência dentro, foi ganhando espaço, controlando cada vez mais os dirigentes do mundo do desporto, que cada vez mais recorriam à sua influência para subir no escalão do dirigismo. Para evitar algumas resistências decidiu designar o presidente. Nem houve problema para substituir João Havelange, designado presidente honorário, com salário convenientemente elevado.
O escolhido já se sabe quem foi: um tal (e que tal!) Seep Blater. Não sei se se lambram dele. Serviu no Sporting, no tempo do despachante. Contratado para projectar o clube de Alavalade nas altas instâncias futeboleiras, mas ocorreram alguns azares, sobretudo na regularidade com os vencimentos. Blater acabou por zarpar e ameaçar os lagartos com a Fifa se não pusessem as contas em dia. O despachante, ele próprio, teve de se despachar e abalou para Angola e Seep acabou, como se viu, por ascender na vida. E que vida! O ordenado é imenso, ao nível de qualquer sultão petrolífero. Despesas de viagens e estadias e festarolas são todas pagas pela Fifa, que ainda agracia o viandante com 500 dólares por dia! o ilustre presidente pode fazer-se acompanhar, e é conhecida uma vasta lista de jovens senhoras interessantes, por quem bem entenda que deve viajar com ele, ou mesmo sem ele, por esse mundo fora. Jennings conta tudo. Não faço ideia se o livro já terá ou não sido comentado na imprensa portuguesa. Nos jornais parisienses não vi nada. Mas não li todos e não li, admito nenhum dos desportivos. O que se descreve e comenta é verdadeiramente escandaloso e pode, eventualmente por em causa o organismo que explora, no sentido literal do termo, o mundo do futebol. Presumindo que os dirigentes das federações não sejam do género de dormir na forma pode concluir-se que também eles devem exorbitar nos consumos. Pelo menos podem tornar-se suspeitos. A nível de clubes a transparência é a que se conhece. Não estou a ver qual dos nossos presidentes clubeiros se pode dar ao luxo de ir à Suiça atirar pedras a Seep Blater.
Em todo o caso acho que deviam ler o livro. Não para aprender, nem invejar, mas para ponderar.
Se quiserem homenagear o homem com uma estátua, façam-no. E dêem vivas! Se forem capazes de dizer basta, talvez o futuro lhes faça justiça...
Mas a avaliar que que se passa na Itália, andar com garotas bonitonas talvez seja um mal menor
e bem mais suave que arrancar dentes...

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