sábado, janeiro 13, 2007

CAROLINICE

Jantei uma vez com Pinto da Costa. Aconteceu-me em Marselha. Ia de férias, que me ofereci, para assistir ao Europeu de futebol, em França, pelos anos 80. Instalei-me em Versailles, em casa de amigos e no dia seguinte fui tratar da papelada para os ingressos. Saiu-me em sorte uma jovem senhora que não só fez um esforço imenso em entender o meu linguajar estrangeiro, como me ofereceu uma entrada mágica para ir assistir, daí a nada, à final de Roland Garros, que estava mesmo a começar.
O primeiro jogo de Portugal foi com a Alemanha, em Estrasburgo, claro, ali mesmo encostadinho à porção alemã ocidental. Já se sabe que isenção e receitas são coisas distintas. Deu para ver uma porção de loiraços embriagados, acalorados pelo sol radioso, a fazer arruaças próprias da época. Almocei choucroute. Os restaurantes estavam à espera de imigras portugueses, mas nenhum se deu ao incómodo de assar sardinhas. Fui de avião, que ainda não havia tgv para aqueles lados.
O jogo foi ligeiramente mau, mas deu para empatar. Nem me lembro se houve golos, creio que não. Mesmo assim o Chalana foi badalado. Até porque a mulher estava lá e esforçava-se por ser notada. Era, mas ainda não se sabia, uma forma acarolinada de estar no futebol. Esteve à guarda de Neves de Sousa, que também ia de esposa!
Mas foi em Marselha, onde ia ter lugar o segundo jogo da equipa portuguesa, que encontrei um colega angolano, que ia relatar para a Renascença, Ribeiro Cristóvão. Como estar em serviço não é o mesmo que estar de férias, combinamos beber um copo ao fim da tarde e entretanto ele foi à vida e eu aturistei-me pelas colinas. E quando dei por mim estava a jantar. Fui ao balcão e pedi para telefonar (ainda não havia telemóvel!) para o hotel do Cristóvão. Ele e o comentador ainda estavam à espera de uma chamada, para gravar serviço. Eu que não estava à espera de nada fui acabar o meu jantar e desci a avenida até ao mar, onde estava o restaurante onde se ia jantar, onde fiquei à espera. Em vez de um par, chegou um trio...
Fui beberricando o meu café, enquanto eles lutavam contra o menu. Pinto da Costa contava com alguma amargura como fora avisado pelo médico da doença de Pedroto. Tinha sido um choque. E não se sabia ainda como ia ser. Perguntaram-lhe se já havia algum treinador em vista. Que não, que não, disse Pinto da Costa, Pedroto ia continuar...
Mas... Qual mas, o homem ainda está vivo e tem contrato... E foi assim, se a memória não me falha. O Porto chegou à final da Taça Uefa, com Pedroto no leito.
Recordo-me deste jantar, que Pinto da Costa pagou, incluindo o meu café, porque me impressionou. Aquele Pinto da Costa era ainda do tempo em que o poder ainda se concentrava em Lisboa. Por isso, durante o estágio de preparação para o Europeu, em Palmela, contra tudo quanto estaria estabelecido, dirigentes leoninos foram ao centro e aliciaram Sousa e Pacheco!
Data daí as tremendas mudanças no futebol dos portugueses. De meio mundo vieram estímulos em forma de fundos. E de repente Futre vai para as Antas; uns quantos Pintos saiem das cascas. É o assalto estratégico à Praça da Alegria. Dá-se de barato a presidência, mas fixa-se a comissão dos árbitros, a junta dos justos, o poder, esse. Lisboa desapareceu. Perdeu poder e decisão. De tudo isso, de muito e muito campeonato levado para o Norte, iria nascer a Liga. Mas os impetos «liguistas» foram criteriosamente prolongados no tempo. Até arrefecer os ânimos, até permitir um controlo controlado. Desde então o Porto nunca deixou de estar no alto e sózinho ganhar mais do que os outros todos juntos. Os outros, bem entendido, é que são ilustres, mas ele é que foi ganhando. Provavelmente irá ter que sair de cena e de momento não se vislumbram outros Pintos à vista.
E não é que Figo está a cair de maduro!...

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