Agora até os finlandeses chegam a Lisboa e ficam fascinados. É a cor, indiscritível, o Rio, onde apetece ir, à sexta-feira, ao domingo... o Parque Eduardo Sétimo, visto lá de cima com o Marquês como primeira figura e o Cais das Colunas, desfeito, à espera de uma solução que nos permita imaginar Lisboa tão bela como sempre foi mas mais adaptada aos nossos dias , aos dias que caminham inexoravelmente para a exploração de cada minuto da vida de cada homem que não tenha uma caneta para assinar um cheque.
É nos primórdios dessa Lisboa que existimos - explica a Loira da Rua 48 à vizinha, pendurada no mesmo varão do autocarro, cheio de gente calada, sem capacidade para reclamar ar condicionado, mais viaturas na carreira porque o Metro entrou em greve, tem linhas avariadas e porque a Carris resolveu poupar com as férias dos estudantes.
-"Dentro de algum tempo - poucos anos - o Terreiro do Paço abate, os Ministérios afundam-se, lá se vão as facturas que ainda não pagaram, o sonho do Metro, como uma espécie de marginal de um aquário vivo, desaparece, mas, em contrapartida, talvez possamos ver as flores de estufa do Ministério da Agricultura e florescer no Rio, batidas pelas ondas suaves, a abanar, a abanar..."
- "Oh mulher, você está doida! Só pode ser do calor..."
- " É do calor, isso mesmo... um dia destes vamos ver os homens todos tapados, comos os tuaregues do deserto, os padres a fugir, os políticos a perguntar "que fazer?" Ninguém nos preparou para isto e Lisboa a crescer em deserto, a água a sumir-se por debaixo da pombalina e nós todos admirados - como deixámos que nos governassem assim...?
A viagem do autocarro chegou ao fim. Havia um pesado silêncio entre os passageiros que foram descendo. Alguns deles interrogando-se seriamente sobre o que estaria a acontecer debaixo daquelas pedras que pisavam como todos os dias. Alguns deles ainda ouviram a Loira dizer: "Lisboa Existe! - Lutemos por Ela"
É nos primórdios dessa Lisboa que existimos - explica a Loira da Rua 48 à vizinha, pendurada no mesmo varão do autocarro, cheio de gente calada, sem capacidade para reclamar ar condicionado, mais viaturas na carreira porque o Metro entrou em greve, tem linhas avariadas e porque a Carris resolveu poupar com as férias dos estudantes.
-"Dentro de algum tempo - poucos anos - o Terreiro do Paço abate, os Ministérios afundam-se, lá se vão as facturas que ainda não pagaram, o sonho do Metro, como uma espécie de marginal de um aquário vivo, desaparece, mas, em contrapartida, talvez possamos ver as flores de estufa do Ministério da Agricultura e florescer no Rio, batidas pelas ondas suaves, a abanar, a abanar..."
- "Oh mulher, você está doida! Só pode ser do calor..."
- " É do calor, isso mesmo... um dia destes vamos ver os homens todos tapados, comos os tuaregues do deserto, os padres a fugir, os políticos a perguntar "que fazer?" Ninguém nos preparou para isto e Lisboa a crescer em deserto, a água a sumir-se por debaixo da pombalina e nós todos admirados - como deixámos que nos governassem assim...?
A viagem do autocarro chegou ao fim. Havia um pesado silêncio entre os passageiros que foram descendo. Alguns deles interrogando-se seriamente sobre o que estaria a acontecer debaixo daquelas pedras que pisavam como todos os dias. Alguns deles ainda ouviram a Loira dizer: "Lisboa Existe! - Lutemos por Ela"
2 comentários:
um beijinho para o pai que nunca tive : ) com muito amor da rita batata frita : )
"como deixámos que nos governassem assim"?
estes municipes são pobres, mal agradecidos e ceguetas, então e a bandeira gigantone no alto do Parque katé parece que estamos na Fifty Avenue?
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