segunda-feira, abril 17, 2006

DEPUTAR

Que fique claro que não se trata aqui de ir de visita a meninas, qualquer que seja o estrato social das ditas. Disso um cavalheiro não fala -- a não ser em surdina! De facto vou ter alguma dificuldade em expressar-me. Além do mais nem sei ao certo como são os deputados nos outros países. Não sei se quer se são como os nossos, na semelhança com o comum dos cidadãos. E como cidadãos quero dizer criaturas que vivem de saber viver, que cedo aprenderam a arte de sobreviver. E isto não tem a ver com política, políticos ou politiquice.
Sobreviver na política é outra arte. O desenrascar é arte portuguesa típica. Não se falta ao trabalho, não senhor, mesmo que seja o de estar sentado a ouvir os outros: mete-se baixa. Nenhum contribuinte cá do burgo se esquece de declarar o que deve. Às vezes não se lembra.
Talvez o problema mais agudo seja a ponte. É isso, é! A ponte é um vício nacional e é já um direito adquirido e tão legítimo como qualquer outro, ainda que de legalidade duvidosa. Um feriado à terça está mesmo a pedi-las e se for à quinta é o mesmo. Não vale a pena atirar as culpas aos deputados pelas leis não discutidas ou por aprovar.
Naquele ambiente produtivo em que habitam os deputados, que nos habituaram a vê-los sentados no hemiciclo ou a patinhar pelos passos perdidos, quando lá vão... Ponte? Não senhor!
Ponte não perdem, nem que chova, nem que se vote. Quem quer que se vote «debaixo da ponte» ou é aquilo que parece ou não tem arte...
Bem vistas as coisas, a Assembleia é o que os deputados querem que seja e como está. E isso dá muito jeito ao governo na maior parte do tempo. O senhor Presidente da Assembleia podia sugerir que se instituisse um regimento mais austero. Que se fugisse da ponte com o mesmo empenho que o Diabo foge da cruz. Que se deputasse com zelo, que se votasse em consciência ou de olhos vendados. Tem que haver latitude, deputado não tem que ser mártir, nem santo, sete dias na semana. Mas não deve andar a saltar de ponte em ponte, que dá nas vistas e entristece o dr. Gama...

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